Que raio de pesadelo este. Volta
e meia, aparece-nos à frente um senhor engravatado ou uma senhora de tailleur que,
com as explicações mais parvas ou simplesmente porque sim, nos diz que "não pode ser" –
elenquei alguns no final deste que lêem, por mais que a realidade os desminta.
Alguns dos "não pode ser" do dia têm que ver com a TAP. "Não
pode ser" mantê-la em mãos públicas, ou então, diz-nos Maria Luís
Albuquerque, a empresa desaparece.
Maldita memória, que arranja
sempre maneira de se pôr ao fresco quando é precisa. Há quase quinze anos,
Quando o pesadelo destes "não pode ser" começou, um Governo, por
sinal do tal partido que apenas fica vagamente de esquerda quando
está na oposição, também quis vender a TAP, então à Swissair, e a venda
chegou a ser aprovada em Conselho de Ministros. O senhor engravatado que nesse
longínquo ano 2000 nos disse o mesmo "não pode ser" que hoje nos diz
Maria Luís Albuquerque foi António Guterres. O que a realidade nos veio dizer
depois foi que a TAP teria desaparecido se o negócio não tivesse abortado. O
comprador, a Swissair, entretanto desapareceu. Faliu. Se ainda temos
transportadora aérea devemo-lo aos trabalhadores da TAP. Foi a sua luta que fez o Governo de Guterres
recuar.
Não quiseram aprender nada, nem com esta experiência, nem com as da PT e do BES. Muitos "não pode ser" depois, o actual Governo volta à carga com o mesmo propósito e quer vender a TAP por um preço oficialmente simbólico ao primeiro que aparecer, e sublinho o oficialmente, nos tempos que correm as garantias de que não haverá outro tipo de contrapartidas mais submarinas é coisa que não existe. Todos os sindicatos de todos os sectores da TAP convocaram quatro dias de greve. A TAP é dos que nela trabalham, que não querem ver as suas condições de trabalho esmagadas para aumentar os lucros de um mafioso qualquer, mas também é nossa. É a TAP que assegura o serviço público de transporte de passageiros de e para Portugal e é da TAP depende o Turismo, um dos sectores que mais empregos garante a tantos de nós, directa e indirectamente. É nossa obrigação apoiá-los em mais esta luta. E já vai sendo tempo de nos juntarmos, como eles o fizeram, para acabar de uma vez por todas com os "não pode ser" que nos vão dando cabo da vida.
Não quiseram aprender nada, nem com esta experiência, nem com as da PT e do BES. Muitos "não pode ser" depois, o actual Governo volta à carga com o mesmo propósito e quer vender a TAP por um preço oficialmente simbólico ao primeiro que aparecer, e sublinho o oficialmente, nos tempos que correm as garantias de que não haverá outro tipo de contrapartidas mais submarinas é coisa que não existe. Todos os sindicatos de todos os sectores da TAP convocaram quatro dias de greve. A TAP é dos que nela trabalham, que não querem ver as suas condições de trabalho esmagadas para aumentar os lucros de um mafioso qualquer, mas também é nossa. É a TAP que assegura o serviço público de transporte de passageiros de e para Portugal e é da TAP depende o Turismo, um dos sectores que mais empregos garante a tantos de nós, directa e indirectamente. É nossa obrigação apoiá-los em mais esta luta. E já vai sendo tempo de nos juntarmos, como eles o fizeram, para acabar de uma vez por todas com os "não pode ser" que nos vão dando cabo da vida.
Recorrendo às palavras do Nuno Ramos de Almeida,
"existem condições para aproveitar uma hegemonia social e transformá-la em
mudança política. A maioria dos portugueses é contra a existência de uma casta
política e económica que vive da corrupção, não está de acordo com uma política
de austeridade que liquida a vida e a economia e só serve os especuladores, e
pretende ter voz activa no seu futuro. Nestes três eixos (corrupção, economia e
democracia) há uma posição maioritária das pessoas para mudar. É só preciso
dar-lhe uma voz credível". Juntos
podemos. Encontramo-nos por lá.
"Não pode
ser" rasgar o Tratado Orçamental da ultra-austeridade para sempre nem pode
ser renegociar a dívida pública, mas ver o país a definhar e a fome a alastrar
por causa desses "não pode ser" já pode e tem que ser.
Defender intransigentemente
políticas que devolvam Portugal aos portugueses "não pode ser",
aceitar políticas que apenas servem os interesses da Alemanha, da banca do
centro da Europa e das grandes multinacionais já pode e tem que ser.
"Não pode
ser" o Banco Central Europeu ceder liquidez aos estados nas mesmas
condições que o faz ao sector financeiro, que depois faz o favor de ceder essa
mesma liquidez a esses mesmos estados a
um juro 40 ou 50 vezes mais elevado, mas tornar povos inteiros escravos de
especuladores agiotas já pode e tem que ser.
Fazer do
bem-estar das populações o objectivo dos objectivos de política económica e pôr
as economias a produzir e a distribuir riqueza "não pode ser",
empobrecer a trabalhar para produzir lucros e rendas que concentram a riqueza num número cada vez mais restrito de milionários já pode e tem que ser.
"Não pode
ser" serviços públicos com a universalidade e a qualidade que os impostos
que pagamos chegam e sobram para suportar, mas pagar juros bem gordos de uma
dívida que não querem ver devidamente auditada já pode e tem que ser.
"Não pode
ser" manter os salários e a estabilidade no emprego que constavam nos
contratos de trabalho que todos nós assinámos com as nossas entidades
patronais, que também os assinaram , mas manter os contratos leoninos, nulos à
luz da Lei, que os sucessivos Governos foram assinando com as suas clientelas PPP, que
quiseram tornar milionárias, tal como deixar falir as milhares de empresas que
nunca mais voltaram a vender os seus produtos depois das sucessivas machadadas
salariais que foram desferidas sobre os seus clientes, já pode e tem que ser.
"Não pode
ser" baixar impostos sobre os rendimentos do trabalho e sobre o consumo,
mas reduzir impostos sobre lucros, permitir que as grandes empresas se isentem
de contribuir para a comunidade que as enriquece e paguem os impostos sobre os
seus lucros em paraísos fiscais e excluir as grandes fortunas de qualquer
contribuição já pode e tem que ser.
Reduzir o IMI
aos particulares "não pode ser", isentar de IMI o maior proprietário
imobiliário do país e conceder 50% de desconto aos fundos imobiliários da banca
já pode e tem que ser.
"Não pode
ser" o Estado ser proprietário de empresas estratégicas para o país, que
geram lucros avultados por operarem em sectores onde não existe concorrência, e
"não pode ser" pôr esses lucros a pagar o Estado social, mas confiar
as parcelas de soberania de cada uma delas e pôr essas empresas a enriquecer
privados que as gerem e desmantelam ao sabor da sua ganância já pode e tem que
ser. Capitalizar empresas públicas em dificuldades com dinheiros públicos
"não pode ser", usar dinheiros públicos para nacionalizar bancos
falidos pela delinquência banqueira já pode e tem que ser.
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Que raio de pesadelo este. Volta e meia, aparece-nos à frente um senhor engravatado ou uma senhora de tailleur que, com as explicações mais parvas ou simplesmente porque sim, nos diz que "não pode ser" – elenquei alguns no final deste que lêem, por mais que a realidade os desminta. Alguns dos "não pode ser" do dia têm que ver com a TAP. "Não pode ser" mantê-la em mãos públicas, ou então, diz-nos Maria Luís Albuquerque, a empresa desaparece.
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